Os mortos estão de pé
Gastão Penalva, escritor de raça, pseudônimo de conhecido e estimado oficial de nossa Marinha de Guerra, há pouco desencarnado, pelo Jornal do Brasil, de 4 de outubro de 1939, escreveu, com o título: a “Humberto de Campos, onde estiver”, uma bela página literária, em que, exteriorizando seu estado de alma de homem bom e incompreendido, reviveu para o grande colega de Arte, agora na espiritualidade, o programa doentio da Terra.
Terminou a carta literária pedindo-lhe desculpas por haver-lhe perturbado o sono. E deu-lhe um saudoso até logo.
Pois bem, no dia 6 do mesmo mês e ano, Chico, que nada leu e de nada sabia, recebeu a resposta de Humberto de Campos para seu querido amigo Gastão Penalva.
Trata-se de uma página linda, toda ela em que, identificando-se pelo estilo e pela sua cultura variada e segura, o mágico escritor maranhense justifica a doença da Terra e lhe oferece o remédio curador e salvador, que nos veio há dois mil anos pelas mãos santas de Jesus.
É uma página magistral, como somente ele, Humberto, sabia e sabe escrever.
Chico a enviou à FEB, por intermédio de M. Quintão, que lhe tirou uma cópia e fez chegar o original às mãos do destinatário.
Gastão Penalva, segundo se soube, surpreendeu-se ao recebê-la e, quando a leu toda, chorou de alegria e consolação, tanto mais por identificar seu querido colega morto, e ganhar, aí, a certeza de que a imortalidade é um fato.
As duas cartas literárias constam do magnífico livro Novas Mensagens, editado pela FEB.
Gastão Penalva, mais tarde, espalhou a notícia e, particularmente, contou o caso, com minudências, ao seu colega João Luso, descrente das verdades espíritas, que, logo depois de ouvi-lo, disse-lhe:
—Isto é um sonho, não acredito que os mortos vivam…
— Bem, retrucou-lhe Gastão Penalva, um dia você terá uma prova. Espere e verá…
Passou-se o tempo.
Ambos ficaram doentes.
E Gastão, sem que João Luso soubesse, desencarnou.
Logo que melhorou e pôde sair, João Luso foi ao Jornal do Brasil, de que era colaborador, para pôr em dia os seus escritos.
À entrada, vem-lhe ao encontro alguém que o abraça e lhe aperta as mãos.
E João Luso despede-se do amigo, apreensivo, por verificar que ele estava pálido e com as mãos geladas…
Entra na redação e exclama:
— Imaginem, acabo de abraçar o querido Gastão Penalva, que não via há muito, mas verifico que está muito doente, pálido, de mãos frias.
O pessoal da redação se entreolha admirado e, um dentre todos diz:
— Não é possível, João Luso, pois ele morreu há quinze dias…
— Há quinze dias? Então é verdade! Os mortos estão mesmo de pé!
Prometeu-me o Gastão uma prova e veio cumprir sua palavra. Graças a Deus!
Abaixou a cabeça. De seus olhos rolavam lágrimas…
Hoje, João Luso já está na Espiritualidade e poderá, muito melhor, verificar, em espírito e verdade, que, de fato, os mortos, tendo à frente o Espírito Humberto de Campos, vivem e estão mesmo de pé.
Ramiro Gama